IV Levantamento sobre o Uso de Drogas entre crianças e adolescentes em situação de rua de seis capitais brasileiras, nos anos de 1987, 1989, 1993 e 1997.

Introdução

É difícil precisar o número de crianças e adolescentes que vivem em situação de rua no Brasil. Trata-se de um grupo heterogêneo e flutuante. Nesse sentido, definir e identificar a população alvo, representa uma das principais dificuldades para realização de pesquisas sobre o tema, assim como para a análise dos dados.

No presente estudo, foram consideradas em situação de rua: "crianças e adolescentes que estavam vivendo nas ruas, trabalhando, perambulando ou esmolando, tirando o sustendo de atividades como tomar conta de carros, vender objetos em faróis, praticar pequenos furtos, etc.". Muitos são abandonados pelos pais, fogem de casa ou simplesmente fazem da rua uma fonte complementar da renda da família. (CARLINI-COTRIM & CARLINI, 1988; LUCCHINI, 1990; SILVA e col., 1991; FORSTER e col., 1992; NOTO e col. 1994).

O consumo de drogas está presente no quotidiano desses jovens, podendo, inclusive, ser considerado como parte integrante de um estilo de vida específico do grupo. É interessante considerar que esse fenômeno não é exclusividade brasileira. Essa realidade também está presente no cenário de outros países, como México, Colômbia, Honduras, bem como em países mais desenvolvidos como Estados Unidos, Canadá, Austrália e alguns países da Europa. Obviamente, existem claras diferenças nas condições de vida dos jovens nesses diferentes países. Além disso, o tipo de droga usada também é variável. Porém, a inserção da droga na rotina da vida dessas crianças e adolescentes em situação de rua parece estar igualmente presente (KIPKE e col., 1993; MIGUEZ-BURBANO e col., 1993; WRIGHT e col., 1993; WHO, 1993; GREENE e col., 1997).

O consumo de drogas, assim como o desenvolvimento da dependência, é permeado por inúmeras variáveis. Embora a droga seja um fator indispensável, as características pessoais e as condições oferecidas pelo meio também são fatores que contribuem significativamente. Quando se trata de crianças e adolescentes em situação de rua, tanto o indivíduo quanto o meio, estão particularmente fragilizados, e o terceiro fator, a droga, está mais disponível. Essa realidade, portanto, intensifica o risco do uso abusivo de drogas e do desenvolvimento de problemas associados (LUCCHINI, 1991; NOTO e col., 1994).

Os estudos, que buscam elucidar o consumo de drogas, são de extrema relevância para o direcionamento adequado das políticas públicas. Esses estudos traçam um perfil da situação real, diminuindo, conseqüentemente, a chance de serem adotadas políticas públicas baseadas em simples especulações.

Nesse sentido, o CEBRID realizou, anteriormente, três levantamentos epidemiológicos sobre o uso de drogas entre crianças e adolescentes em situação de rua do Brasil, nos anos de 1987, 1989, 1993 (CARLINI-COTRIM e col., 1989; SILVA-FILHO e col., 1990; NOTO e col., 1994). Esses levantamentos apontaram um elevado consumo de drogas nessa população, tendo sido observados valores muito superiores, quando comparados com estudantes da rede pública de ensino da mesma faixa etária. Em relação aos tipos de drogas, os solventes e a maconha foram as mais citadas pelos entrevistados, tendo sido observadas diferenças regionais em relação às demais drogas. No último levantamento, realizado em 1993, notou-se um consumo preocupante de medicamentos psicotrópicos no Nordeste, enquanto, no Sudeste, o problema estava relacionado ao consumo de cocaína, e seus derivados. Esses dados têm sido constantemente utilizados para subsidiar programas de prevenção na área.

Nesse sentido, o presente estudo teve por objetivo atualizar e ampliar as informações sobre o consumo de drogas entre crianças e adolescentes em situação de rua, em seis capitais brasileiras: São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza, Rio de Janeiro, Recife e Brasília.

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Metodologia

Departamento de Psicobiologia - Unifesp/EPM

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