IV Levantamento sobre o Uso de Drogas entre crianças e adolescentes em situação de rua de seis capitais brasileiras, nos anos de 1987, 1989, 1993 e 1997.

Metodologia

Levantamento e seleção das instituições

Entrevistas com as crianças e adolescentes em situação de rua

Na presente pesquisa, assim como nas três anteriores, a amostra foi selecionada tendo como referência as crianças e adolescentes em situação de rua que recebiam assistência (abrigo noturno, alimentação, assistência médica, cursos, entre outros), tanto por parte do Governo como de Organizações Não Governamentais (ONGs). Nesse sentido, o mapeamento das instituições que oferecem esse tipo de assistência é um dos pré-requisitos básicos para a coleta de dados.

O perfil e o número dessas instituições sofrem consideráveis alterações ao longo dos anos, especialmente com as mudanças de governo. Assim, diante da inexistência de um cadastro atualizado das mesmas, a primeira etapa do estudo consistiu na atualização do cadastro anteriormente elaborado para a pesquisa de 1993. Os dados obtidos a partir desse processo será objeto de uma publicação à parte (CEBRID, 1998).

LEVANTAMENTO E SELEÇÃO DAS INSTITUIÇÕES

LEVANTAMENTO DAS INSTITUIÇÕES

Foram realizados contatos com as seguintes entidades que centralizam ações com crianças e adolescentes em situação de rua (a nível Federal, Estadual e Municipal): Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua; Pastoral do Menor; e as Secretarias de Ação Social ou correspondentes. Essas organizações foram consultadas a respeito de possíveis mudanças na sua estrutura de assistência, assim como indicação de novas instituições, criadas entre os anos de 1993-1997.

Paralelamente, foi utilizada a metodologia "bola de neve" (BIERNACKI & WALDORF, 1981), tomando por base as instituições levantadas durante o ano de 1993. Nesse sentido, foram solicitadas indicações de outras instituições, as quais indicaram outras, repetindo o processo até a "terceira geração".

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SELEÇÃO DAS INSTITUIÇÕES

Todas as instituições levantadas, num total de 150, foram visitadas, inclusive aquelas que já haviam sido visitadas em 1993, tendo sido preenchido um questionário sobre os dados gerais da instituição, através de uma entrevista padronizada com um representante da instituição. Essa etapa teve por objetivo verificar o perfil do atendimento realizado (assistência oferecida, clientela, objetivos, etc.), assim como alguns aspectos relevantes para a realização da pesquisa (CEBRID, 1998). Na ocasião, foi solicitado apoio e autorização para a realização do levantamento (Anexo I).

Uma vez levantadas as instituições de assistência e suas características, foi iniciado o processo de seleção daquelas consideradas adequadas para a coleta dos dados. Foram estabelecidos os seguintes critérios:

    Atendimento a crianças e adolescentes em situação de rua, tendo como referência a definição apresentada no primeiro parágrafo da introdução deste livro;

    Atendimento em regime aberto, ou seja, as crianças e/ou adolescentes tinham a liberdade de sair da instituição, passando parte de seu tempo na rua;

    No caso de mais de uma instituição atuando com a população da mesma região da cidade, foi selecionada apenas uma delas, para evitar a sobreposição das amostras;

    As instituições de atendimento específico a crianças e adolescentes usuários de drogas, foram excluídas (uma vez que a pesquisa visava estimar a prevalência1 do uso de drogas).

Com base nos critérios descritos, foram selecionadas as seguintes instituições:

FORTALEZA

Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua
Fundação Terre des Hommes
Projeto Irmão Sol Irmã Lua
Projeto Semear – Escola Ambiental

PORTO ALEGRE

Casa do Pequeno Operário – Lar Dom Bosco
Associação Casa Menina de Rua
U.O.Centro – Unidade Operacional Centro
CECOFLOR – Centro Comunitário da Vila Floresta
Centro de Promoção da Criança e do Adolescente São Francisco de Assis
Lar de São José
Escola Municipal Porto Alegre
Escola Estadual Ayrton Sena da Silva – Escola Aberta

SÃO PAULO

Casa Semeia – Serviço de Motivação Educativa para Infância e Adolescência
Casa Aberta Santana
Serviços Assistenciais Senhor Bom Jesus dos Passos
Centro Convivência "Casa da Praça"
Casa Aberta Santo Amaro
Casa Aberta Água Branca
Albergue Noturno Gasômetro
Projeto Três Corações
Abrigo Educativo Taiguara
Centro Comunitário da Criança e Adolescente (CCCA)
Casa Aberta da Luz
Ministério Jeame
Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDECA)

RECIFE

Programa Espaço Aberto de Articulação
Casa Menina Mulher
Centro Educacional Profissionalizante do Flau
Grupo Ruas e Praças
Comunidade Assumindo Suas Crianças
Centro Comunitário das Crianças da Ilha do Marvim
Comunidade dos Pequenos Profetas
Grupo Brincar de Viver
CEAME – Centro de Atendimento Especial para Meninos(as) de Rua
Casa de Acolhimento Mirim Brasil
Centro Pernambucano da Criança e do Adolescente
Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo
Grupo Sobe e Desce de Olinda
Escola do Jovem Trabalhador (CTC)

RIO DE JANEIRO

Casa da Vila
Sítio Vila Meu Lar
Casa Nova Esperança Viva
Movimento Fé e Amor
Casa Rosada
CEMASI – Arlindo Rodrigues - República da Tijuca
Recanto do Barão
Casa São Lourenço
Casa Residência Dom Bosco
Associação Beneficente São Martinho – Sede
Associação Beneficente São Martinho - Núcleo de Vicente de Carvalho
Projeto O Mundo da Rua
Casa das Meninas
Casa São Vicente de Paula
Projeto Se essa Rua Fosse Minha
Casa São Cristóvão

BRASÍLIA

Centro de Desenvolvimento Social – Núcleo Bandeirante
Centro de Recepção e Triagem – Taguatinga
Centro de Desenvolvimento Social – Taguatinga Norte
Escola Ação Social do Planalto
Projeto Vida
Centro de Desenvolvimento Social – Sobradinho
Obras Sociais do Centro Espírita Irmão Áureo
Centro de Desenvolvimento Social – Projeto Gaivota
Casa de Apoio "Tio Mané"
Casa de Apoio de Taguatinga
Escola dos Meninos e Meninas do Parque
Comissão Local do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua – DF
Centro de Desenvolvimento Social – Brasília
Casa de Apoio – Plano Piloto
Canarinhos de Fátima

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II.b - ENTREVISTAS COM AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RUA

II.b.1 - QUESTIONÁRIO

Para a coleta de dados, foi utilizado como instrumento uma adaptação do questionário elaborado pela Organização Mundial da Saúde - OMS (SMART e col., 1981) já utilizado nos levantamentos de 1987, 1989 e 1993 (CARLINI-COTRIM e col., 1989; SILVA-FILHO, 1990; NOTO e col., 1994). O instrumento (Anexo II) incluiu questões sobre dados pessoais, histórico do consumo de drogas e conceitos relacionados. As perguntas foram formuladas de forma direta e as respostas classificadas, pelo entrevistador, dentre as alternativas contidas no questionário.

Na versão referente ao ano de 1997, foram acrescentadas algumas questões como: função e motivo do uso ou não uso de drogas; questões envolvendo maiores detalhes sobre vínculos familiares, atividades diárias (esporte, artesanato, etc.) e tentativas de suicídio.

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II.b.2 - SELEÇÃO E TREINAMENTO DOS ENTREVISTADORES

Os entrevistadores foram selecionados por já terem experiência prévia com pesquisa, tendo a maioria já participado de levantamentos realizados anteriormente. A Figura 1 apresenta o quadro geral de todos os participantes da pesquisa.

Os pesquisadores do CEBRID deslocaram-se até as seis capitais para o treinamento das respectivas equipes. Na ocasião, foram apresentadas as linhas gerais da pesquisa, incluindo a importância dos dados epidemiológicos, características da população estudada, objetivos e metodologia empregada. Os detalhes metodológicos foram discutidos, tendo como referência um manual de orientações para entrevista e preenchimento do questionário (Anexo III). Com a finalidade de padronizar os conceitos utilizados na pesquisa, foram apresentadas algumas definições básicas a respeito do consumo de drogas e suas conseqüências (Anexo IV).

Foram feitas simulações de situações hipotéticas de entrevistas e discussão das reações mais adequadas por parte do entrevistador. Cada entrevistador realizou uma entrevista piloto, seguida de uma discussão com os demais membros da equipe.

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II.b.3 - AMOSTRA

Os dados foram coletados através de entrevistas individuais e anônimas realizadas nos meses de Setembro - Novembro de 1997, estendendo-se até Dezembro em duas capitais (Rio de Janeiro e Brasília). A população de rua, segundo informações obtidas através de educadores, parece sofrer mudanças características no decorrer do ano. Durante o inverno, nas capitais do Sul e Sudeste, aumenta o número de atendimentos nos abrigos noturnos. Por outro lado, no início do ano letivo, os jovens procuram as escolas na tentativa de reiniciar o vínculo escolar, porém, muitos abandonam os estudos antes do final do primeiro semestre. Assim, o segundo semestre foi considerado o mais adequado para a realização do levantamento, tendo sido evitados os meses de Julho e Agosto por serem meses de frio na capitais do Sul e Sudeste.

O número de entrevistas foi calculado com base no número de atendimentos diários das instituições, tendo sido entrevistados cerca de 20-30% das crianças e adolescentes em situação de rua. A seleção, na maioria das vezes, foi realizada através de um sorteio ou, nos casos onde isto não foi possível, foram utilizadas outras técnicas de seleção para garantir a aleatoriedade da amostra: visitando-se as instituições em dias alternados da semana, horários variados e abordagem das crianças e/ou adolescentes em diferentes locais (dormitórios, salas de atividade, etc.). Os entrevistadores foram orientados para que não aceitassem encaminhamentos ou sugestões dos funcionários ou educadores.

Foram entrevistados, no total, 530 crianças e adolescentes em situação de rua, sendo assim distribuídos: 96 em Brasília, 83 em Fortaleza, 97 em Porto Alegre, 51 em Recife, 89 no Rio de Janeiro e 114 em São Paulo.

As entrevistas duraram cerca de 25 minutos e ocorreram em locais isolados para garantia do anonimato. Também não foi permitida a presença de qualquer outra pessoa, para que as respostas obtidas não fossem influenciadas por colegas ou educadores de rua.

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II.b.4 – CRÍTICA DOS DADOS

A crítica dos dados é um processo de detecção de erros por inspeção cuidadosa dos dados coletados. Em geral, é responsável por retardar a conclusão dos resultados da pesquisa. No entanto, trata-se de uma etapa fundamental para garantir a qualidade dos dados (CARLINI-COTRIM & BARBOSA, 1993).

Na presente pesquisa, os questionários foram examinados individualmente, antes da digitação, para verificação de possíveis erros de preenchimento, além de verificar a coerência interna do questionário como um todo. Os erros encontrados, passíveis de correção, foram assinalados nos próprios questionários. Nos casos de incoerências ou erros mais graves, os questionários foram eliminados. Também foram excluídos os questionários com excesso de questões em branco (mais de 30%).

Durante o processo de digitação, os dados também foram criticados, tendo como referência os valores válidos para cada resposta. Dessa forma, por exemplo, para uma questão com respostas previstas dentro de um intervalo entre 1 e 5, uma resposta 6 seria rejeitada.

Após a digitação, os dados novamente sofreram crítica, com o objetivo de detectar erros de digitação e incoerência interna através de relações lógicas. Assim, por exemplo, um entrevistado que tivesse declarado o uso de maconha no mês (nos trinta dias que antecederam a entrevista), necessariamente, deveria apresentar resposta positiva quanto ao uso na vida (já ter experimentado pelo menos uma vez na vida) e uso no ano (no último ano que antecedeu a pesquisa). Ou, por exemplo, no caso de um entrevistado ter respondido que usava drogas (além de álcool e tabaco), deveria ter as questões 19 a 27 respondidas.

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II.b.5 - ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados foram comparados com os dados obtidos nos três levantamentos anteriores através do teste c2 para tendência. Foi considerado um nível de significância de 1,0% (p<0,01).

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Tabela 1 

Departamento de Psicobiologia - Unifesp/EPM

Contato: cebrid@psicobio.epm.br