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Boletim PSIFAVI
Sistema de Psicofarmacovigilância

Número 11 Maio a Julho 2001

CEBRID
Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

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Aconteceu no Brasil

6. Dependência de nicotina e tratamento farmacológico: vale a pena quando feito a olho?

Recebemos ofício assinado por quatro colegas médicos (CRM-SP 40.828; CRM-SP 54.684; CRM-SP 53.830 e CRM-SP 59.373) que transcrevemos abaixo:

"Como profissionais envolvidos com o atendimento a dependentes de nicotina que desejam interromper este uso, temos nos defrontado com algumas situações inquietantes que achamos por bem compartilhar.

a) Ouvimos relatos de pacientes que obtiveram a medicação anti-craving mais eficaz para dependência de nicotina (bupropiona _ Zyban) sem prescrição médica, comprando-a em farmácias que não exigiram a prescrição.

b) Observamos o uso da bupropiona por pacientes que receberam orientações médicas parciais sobre como utilizá-la, resultando em situações que o potencial terapêutico da substância não é explorado plenamente. Apesar da relação custo-benefício desta medicação ser, em geral, muito boa, seu uso de forma inadequada faz inverter esta relação (a medicação é cara e, se usada inadequadamente, em geral não resulta em uma abstinência total e prolongada da nicotina);

c) Temos observado que o marketing da bupropiona (Zyban) tem sido feito sobretudo aos médicos sem preparo técnico para lidar com dependências de substâncias psicoativas. Este fato não é por si mesmo grave (pois há que se incentivar que todos os profissionais de saúde tenham conhecimentos nesta área e saibam abordar corretamente as dependências, sobretudo as mais prevalentes, como da nicotina e álcool), mas o risco que se corre é de que o tratamento destes pacientes seja baseado exclusivamente (ou principalmente) na prescrição de medicação anti-craving. Isto seria uma incorreção técnica, haja vista a necessidade primacial reconhecida pela comunidade científica internacional da abordagem psicossocial destes pacientes. O mesmo alerta se dá em relação a outras medicações anti-craving, como a naltrexona (Revia _ para tratamento da dependência do álcool);

d) Observamos um caso de paciente que passou a abusar das gomas de mascar de nicotina (Niquitin 2 mg, chegando a 16 gomas/dia), em seguida ao uso terapêutico mediante prescrição. Este fato nos remete à reflexão sobre a necessidade de também este recurso farmacológico ser utilizado apenas com prescrição médica.

Preocupados com a gravidade destes fatos relatados, face às conseqüências lamentáveis que deles podem advir (efeitos colaterais graves, uso ineficaz de um bom recurso terapêutico e sobretudo a "venda" à classe médica de um modelo de tratamento das dependências baseado apenas em farmacoterapia), achamos por bem compartilhar estas informações com os colegas médicos de um modo geral, com aqueles que trabalham com as dependências de substâncias psicoativas, em particular, e com profissionais de áreas afins. Além disto, pareceu-nos imprescindível alertar os órgãos competentes na expectativa que estes reflitam e elaborem mecanismos de regulamentação e fiscalização do marketing, prescrição e venda destas medicações anti-craving e dos tratamentos à base de nicotina (goma e adesivos cutâneos)."

 


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Departamento de Psicobiologia - Unifesp/EPM

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